Correios de vários países suspendem entregas aos EUA em meio a dúvidas sobre nova 'taxa da blusinha'
Fonte: O Globo
Serviços postais em todo o mundo estão suspendendo entregas de encomendas
para os Estados Unidos, citando confusão sobre como processar milhões de
pacotes de baixo valor que perderão o tratamento de isenção tarifária na
próxima semana.
A partir da próxima sexta-feira, dia 29 de agosto, o presidente Donald Trump
encerrará a chamada isenção de "minimis", que se aplicava a mais de 4 milhões
de pacotes que entram nos EUA todos os dias, impulsionados em grande parte
pelo comércio eletrônico.
Sob o novo regime, que começou com a China e Hong Kong em maio,
mercadorias enviadas por correio de outros países estarão sujeitas a tarifas e às
regras de conformidade da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP,
em sua sigla em inglês), medida semelhante à "taxa das blusinhas" adotada no
Brasil.
Presentes comprovadamente avaliados em menos de US$ 100 continuarão
isentos de tarifas, segundo a Casa Branca.
Em resposta às mudanças, um número crescente de serviços nacionais de
correio está suspendendo algumas remessas para os EUA já a partir desta
semana, culpando a falta de clareza das autoridades americanas sobre como as
tarifas serão cobradas e como enviar os dados exigidos.
Na Ásia, o Korea Post informou que deixará de aceitar encomendas aéreas e
alguns serviços de correio expresso para os EUA a partir de terça-feira,
mantendo, porém, os serviços premium — operados por meio de
transportadoras privadas — disponíveis, sujeitos às tarifas alfandegárias.
Da mesma forma, a SingPost de Cingapura suspenderá os serviços padrão para
remessas comerciais aos EUA a partir de segunda-feira, mantendo o Speedpost
Express e o Direct International Service disponíveis apenas para clientes de
varejo e corporativos, respectivamente.
O Japão alertou para possíveis atrasos ou devoluções de pacotes em razão das
mudanças, com as autoridades prometendo compartilhar mais informações
assim que disponíveis.
Os serviços postais europeus também fizeram ajustes diante das mudanças,
com vários suspendendo remessas. As transportadoras dos correios da Noruega
e da Finlândia informaram que suas paralisações começam no sábado.
‘Questões-chave’
A Deutsche Post e a DHL Parcel Germany também estão suspendendo
temporariamente “a aceitação e o transporte de encomendas de clientes
comerciais via rede postal para os EUA”. O serviço DHL Express continua
disponível.
“Questões-chave permanecem sem resposta, particularmente sobre como e por
quem as tarifas alfandegárias serão cobradas no futuro, quais dados adicionais
serão exigidos e como a transmissão dos dados para a Alfândega e Proteção de
Fronteiras dos EUA será realizada”, disse a DHL em um comunicado na sextafeira.
A República Tcheca interrompeu o envio de pacotes para os EUA, enquanto o
provedor postal da Áustria deixará de aceitá-los após 25 de agosto, citando as
mudanças. O Bpost da Bélgica, segundo informações, suspenderá os envios a
partir de sexta-feira devido à incerteza regulatória.
O Royal Mail, do Reino Unido, planeja uma breve suspensão para clientes com
contas comerciais na próxima semana, a fim de implementar um sistema
revisado para lidar com as tarifas recém-impostas.
O Australia Post suspendeu temporariamente suas entregas de serviço de
trânsito — um pequeno número de itens de terceiros países enviados pela
Austrália para os EUA, confirmou um porta-voz. No entanto, entregas diretas
regulares entre os dois países não serão afetadas.
A Casa Branca e o CBP não responderam imediatamente aos pedidos de
comentário.
As interrupções de serviço destacam o impacto sísmico da decisão de Trump
de eliminar a isenção de minimis e levantam preocupações de que mercadorias
baratas — especialmente as provenientes da China — inundem outras
economias, dadas as novas barreiras nos EUA.
A política de minimis de longa data de Washington permitia que pacotes com
itens baratos entrassem nos EUA vindos de todo o mundo com pouca
interrupção ou fiscalização, impulsionada pela demanda dos consumidores por
pechinchas e rapidez nas entregas. O governo de Trump afirma que se trata de
uma brecha usada para evitar tarifas e para introduzir drogas ilegais.
Preocupação real
Agora, serviços postais, vendedores on-line, consumidores e empresas de
transporte estão tentando lidar com o processo caro e complicado de cumprir
as regras dos EUA com pouca orientação das agências federais.
— É uma preocupação real que os dominós estejam caindo e haverá um efeito
cascata em que cada vez mais serviços postais anunciarão que suspenderão
pacotes para os EUA — disse Kate Muth, diretora executiva do International
Mailers Advisory Group, que representa a indústria de correspondência e
transporte internacional dos EUA.
Uma vez que a isenção termine, tarifas serão aplicadas às importações
americanas enviadas por correio com base na taxa tarifária de país de origem
que Trump impôs usando seus poderes de emergência. Alternativamente,
pacotes enviados via correio internacional poderão ser taxados com uma tarifa
fixa temporária de US$ 80 a US$ 200 por item, mas apenas pelos próximos seis
meses.
O CBP detalhou em um boletim do dia 15 deste mês como as tarifas fixas
seriam calculadas, correspondendo às taxas tarifárias dos países. A agência
também ofereceu orientações adicionais aos remetentes na quinta-feira, quando
autorizou duas empresas a recolher e pagar tarifas em nome das transportadoras
internacionais de correio.
— É obviamente muito bem-vindo ,mas ainda é preocupante que estejamos a
apenas uma semana de distância e só tenhamos as duas primeiras aprovadas —
disse Kate Muth.
Os impactos estão se estendendo além dos serviços postais. A partir de
segunda-feira, dia 25, o marketplace on-line Etsy planeja suspender seu serviço
de emissão de etiquetas de envio para os serviços postais nacionais da Austrália,
Canadá e Reino Unido para pacotes com destino aos EUA, segundo seu site.
A empresa sugeriu que os remetentes usem transportadoras com serviços que
permitam o pagamento das tarifas antes da chegada das mercadorias aos EUA,
como a United Parcel Service e a FedEx.
A FedEx disse que continua aceitando e transportando remessas para os EUA
e que não é afetada pelas decisões das operadoras postais. A UPS não comentou
de imediato. O Serviço Postal dos EUA também não respondeu imediatamente
a um pedido de comentário.